domingo, 27 de dezembro de 2009

Receita de ano novo



Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drumond de Andrade

Esse poema é um presente da amiga e poeta Sônia Schmorantz

http://schsonia.blogspot.com/

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Então É Natal




Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Então é Natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, do amor como um todo.
Então bom Natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Então é Natal, pro enfermo e pro são.
Pro rico e pro pobre, num só coração.
Então bom Natal, pro branco e pro negro.
Amarelo e vermelho, pra paz afinal.
Então bom Natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Então é Natal, o que a gente fez?
O ano termina, e começa outra vez.
E Então é Natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, o amor como um todo.
Então bom Natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.

Harehama, Há quem ama.
Harehama, ha...
Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Hiroshima, Nagasaki, Mururoa...

É Natal, É Natal, É Natal.

Simone

sábado, 19 de dezembro de 2009

Não diga nada



Olha prá mim
Não diga nada
Nos teus olhos
Vai nascer
A madrugada...

Sonha prá mim
Um sonho lindo
Nos seus olhos
Vejo um filme
Colorido...

O momento de esquecer
Esse mundo absurdo
Mas não pense que
Eu fico mudo
Por não ter razão...

Não diga nada
Talvez eu encontre
O caminho
Não diga nada
Entre nós não existe
Segredo
Não diga nada
Deixe o vento
Varrer as palavras
Olha prá mim...

Olha!

Fábio Jr.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pedaços de mim



Eu atirei sentimentos
pelas calçadas das ruas,
pelas ruas das cidades,
pelas cidades dos tempos...

Jogo fora o passado,
limpo minha mente,
abro meu coração
e lavo minha alma.

Não recomponho em mim
pedaço algum do destino,
não rebusco retalhos de alma,
nem junto cacos de sentimentos.

Não devo, ninguém deve,
transformar espírito em matéria.
Faço o contrário:
transformo matéria em espírito.

Se assim não for,
os resultados de minha alma
e os cacos de meus sentimentos
serão pedaços de mim!

Abel Pereira

terça-feira, 15 de dezembro de 2009




Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para comerçar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Pablo neruda

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Valsinha




Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
Chico Buarque

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009



A verdade de outra pessoa

não está no que ela te revela,

mas naquilo que não pode revelar-te.

Portanto, se quiseres compreendê-la,

não escutes o que ela diz,

mas antes, o que não diz.

Sintonias do Coração

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Beijo de poeta




Beijo de poeta
vem como brisa suave,
como gota de orvalho
tocando a flor ao amanhecer,
Beijo de poeta
vem como onda lambendo
areia do mar...
num fim de tarde de verão!
Beijo de poeta
Toca o céu estrelado
de uma boca quente
ardente, carente...
Beijo de poeta
tem um quê de mágica,
uma elevação ao mundo
dos sonhos, onde almas
se encontram...
Beijo de poeta
é um beijo em Latim:
basium..romântico
saevium, delicado
Beijo de poeta
é divino, gracioso
terno e carinhoso
Beijo de poeta
desperta desejos
provoca lampejos..
Beijo de poeta
É prêmio e castigo
Relâmpago em dia de temporal
Não tem censura
É pura loucura
Sabores mis
Confudem-se
Embriagam e
sempre se quer bis!!

por Meire Jorge

nas cinzas que sou



quando tu não estás
o mundo se ausenta
sobrando a despedida
de tudo que é meu,
levas os meus sonhos
na memória desfeitos
daquela felicidade
que nunca atingi,
nas cinzas que sou
deixas desesperos,
ventos delirantes
que não assoprei.


http://poetaeusou.blogspot.com/

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Se eu pudesse...



Pudesse eu, meu amor...
Ser o doce aroma dos sonos teus.
Perfumaria teus sonhos com pétalas douradas!
E dar-te-ia no acalanto da madrugada...
Um céu cheio de brilhantes,
para iluminar teus lindos olhos...
E depois, deixar-te-ia...
Na certeza que eu amo você.!

Ah, se eu pudesse...

Guto Lopes

...minha Cama!



Teus sinais deixam-me assim..
mergulho em lençois de cetim
atentos, encarnados, gelados
na cor de carmim!
Envolvo-me em tua maciez
um aconchego convidativo,
em muitos dos instantes
mágicos que vivo
sombreada de silêncio
ao negrito da ausência...
Incomoda-me o presente,
sonhos cinzentos ou coloridos
roubam-me a calma
incendiando emoções
amores , medos
choros sem fim
silenciosa, guarda nas entrelinhas
meus misterios e segredos
ao respirar do meu dormir
contando carneirinhos
até a luz acordar-me,
nua ...despida das máscaras
restos de nada...migalhas,
és um enigma
me tira os pés do chão
me devora!

por Meire Jorge

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

você em mim



O tempo...sempre o tempo!
será que ele passou?
ou passei por ele...
na memória lembranças sobrevivem
a terremotos, furacões,
maremotos, ilusões
sem força suficente
para apagar um amor caliente...
Te vejo agora, frente a frente,
colado em mim, tão perto
e distante assim...
Posso sentir através do teu olhar
o toque das tuas mãos,
o calor da tua pele, do teu corpo
percorrendo minhas veias,
tua boca respirando no meu pescoço
teu sorriso...
...um aperto bem no peito
uma pressão, que me queima
feito fogo de dragão!
Por tantas vezes te vi chegar,
por outras tantas te vi ...partir
e o destino.....atrai
enlaça, amarra com nó cego
para que não se consiga
desatar, afrouxar, separar...
corpos do mesmo barro
almas com a mesma luz...
o universo nos ouve
e a vida quis assim...
você longe de mim!

por Meire Jorge

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

......




E de novo acredito que nada do que é
importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas,
dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada,
apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares
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