segunda-feira, 24 de agosto de 2009

VARGAS: O ESTADISTA SOLAR PUNIDO PELA SOMBRA



Nei Duclós

Escolhi a bela foto acima para ilustrar este texto sobre Getúlio Vargas, que foi forçado a se suicidar em 24 de agosto de 1954, exatamente 55 anos atrás, depois de uma campanha bandida difamatória, que jogou lama na obra de construção nacional do grande presidente. Uma calúnia histórica, até hoje em vigor, a cargo da ultra-direita, dos ladrões e dos imperialistas que não se conformaram com as sucessivas medidas de Getúlio contra a espoliação internacional.

Principalmente, não engoliram a acachapante vitória nas eleições presidenciais de 1950, quando Getúlio Vargas alcançou 48 por cento dos votos, o que deixou seus adversários na rabeira. Venceu sem apoio de ninguém, nem da imprensa, da rádio ou da televisão. Seus comícios era convocados por panfletos jogados nas cidades e atraíam multidões que urravam seu nome. Por que será? Porque era um ditador pai dos pobres enganador? Ou porque o povo sabia que ali estava seu principal aliado, seu líder, que o tirou da brutalidade pré-histórica da República Velha, onde famílias inteiras eram exploradas pelos tubarões de sempre, e o colocou numa vida decente, segura, das leis trabalhistas, dos salários compatíveis?

Vi minha cidade, Uruguaiana, inteira aos prantos no dia do desfecho. Fui acordado com um sussurro sinistro: “Getúlio se matou! Getúlio se matou”. Porto Alegre, como aconteceu em outras cidades, foi depredada pela multidão em fúria. Os jornais de direita do Rio de Janeiro, como O Globo (sempre eles!) foram empastelados. A reação popular adiou o golpe por dez anos. Só em 1964 eles conseguiram reunir forças para derrubar o herdeiro político de Getúlio, João Goulart, que acabou sendo assassinado no exílio.

Lembro quando Samuel Wainer, o fundador da Ultima Hora, o único jornal favorável a Getúlio, criado depois das eleições de 1950, me contou como ele viu o 24 de agosto. Eu era seu editor no tablóide Aqui São Paulo, em 1976. Samuel voltara do exílio acabado, com grossas sobrancelhas brancas e cabelo de algodão. Imaginava que ele tinha uns 80 anos, mas estava mais ou menos na altura da idade que eu tenho agora, 60 anos. O que não esqueço é um detalhe das suas lembranças (mais tarde reunidas no exemplar livro escrito por Augusto Nunes, Minha razão de viver): a população avançou sobre os veículos que traziam os pacotes da UH com a notícia do suicídio, arrancavam os exemplares e...jogavam o dinheiro para dentro das carrocerias! O povo pagava o jornal que ia ler! Esse era o povo brasileiro daquela época, que não se comportava, em massa, como hoje, em que tudo é saqueado, basta haver um acidente em qualquer lugar. Eles pagavam pelo jornal que iam ler! As caminhonetes, os caminhões, ficaram cheios daquele troco que remunerava a UH pelo seu trabalho.

Não vi nenhum destaque hoje nos jornais sobre o suicídio, como se eles tivessem enfim conseguido erradicar a existência, a presença, o legado do grande presidente. Vejam na foto acima Getúlio em visita a um orfanato em Petrópolis: o semblante claro, franco, aberto, rodeado de crianças naqueles idos do Brasil soberano. Vejam o rosto dessas crianças. Existia pobreza, existia dor naquela época, claro, existiam famílias destroçadas, mas não havia o estímulo ao crime contra a infância, não havia o abandono criminoso, como ocorre hoje.

Getúlio não tinha cara de mau, não fazia cara de mau. Foi o estadista que inaugurou o riso em público no Brasil. Ao contrário dos psicopatas da República Velha que o antecederam, todos de rosto cavernoso, e de alguns bandidos que o sucederam, os de riso maroto como JK, os de caratonha fechada como Médici, os de olhar rútilo dos dementes como Collor, os de expressão que mistura bonomia com esperteza, como Lula, os caras de múmia como FHC e Sarney, Getúlio era uma pessoa inteira, íntegra, solar. Desde sua infância, cultivou uma vida pessoal reservada e assumia, nas amizades e na política, uma postura séria, conseqüente. A alegria vinha de sua concentração e grandeza.

Por que o forçaram ao suicídio? Porque inventaram uma atentado contra um jovem major da Aeronáutica, que fazia a segurança do vilão Carlos Lacerda (toc toc toc), conhecido como o Corvo, que liderava a campanha difamatória. Envolveram o presidente nesse embrulho e o forçaram a renunciar. Getúlio, ao dar um tiro no coração, puxou a toalha na hora em que se sentavam para o banquete do poder. Mas o motivo principal foi a intervenção de Vargas contra a espoliação do Brasil pelo capital estrangeiro e a criação da Petrobrás. Sim a Petrobrás, que hoje aparece nas propagandas como uma das maiores empresas do mundo. Só que agora ela não é mais brasileira. Agora está nos conformes.

Destaco, do livro de Luthero Vargas, um dos filhos de GV, autor de Getúlio Vargas, a Revolução Inacabada, publicado em 1988, a denúncia sobre as perdas internacionais, feita pelo próprio GV em 31 de dezembro de 1951. O presidente se refere à artimanha que solapou as boas intenções do decreto do presidente Dutra, que o antecedeu, de 1946, que assegurava "aos capitais estrangeiros aplicados no Brasil o direito de retorno ao seu país de origem, mas na proporção máxima de 20% ao ano”. Ao mesmo tempo, diz GV, no mesmo ano foi feito um regulamento, baixado pela Carteira de Câmbio do Banco do Brasil (e mais tarde completado por vários aditivos), onde se permitiu que os juros, dividendos, lucros do capital estrangeiro que ultrapassasem os 8% previstos em lei eram também considerados como capital estrangeiro.

Essa artimanha permitiu que em cinco anos tenha sido subtraída “da economia brasileira uma soma fabulosa, quase equivalente ao papel moeda circulante no país e que foi escandalosamente incorporado ao capital estrangeiro”. Isso sabotou o espírito e o texto “do decreto-lei, inaugurando na surdina e sem que ninguém se desse conta”, um grande e extorsivo “sistema de vazamento do fruto do trabalho de milhões de brasileiros.” Em 1952, em função desse escândalo, Getúlio Vargas fez o decreto limitando em 10% as remessas de lucros para o Exterior. Foi o estopim. Estava a armada a conspiração.

Décadas mais tarde, quando Brizola falava em perdas internacionais, todos riam. Tinham esquecido as origens desse crime. Já vivíamos então em pleno Brasil sem soberania. Ficamos acostumados ao roubo do nosso trabalho. O país não vai para frente. Claro, é tudo levado para fora, com a conivência geral. É por isso que esquecer o suicídio é crime.

Getúlio Vargas, presidente do Brasil Soberano, presente.
Fonte:http://outubro.blogspot.com/

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