terça-feira, 20 de outubro de 2009



Caminho do campo verde,
estrada depois da estrada.
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sozinha no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
que é a imagem da minha vida
tão vazia mas tão bela,
tão certa mas tão perdida!

Eu ando sozinha por cima das pedras.
Mas a flor é minha.

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua:
vou chegando, vais fugindo,
minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha por dentro dos bosques.
Mas a fonte é minha.

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto.
Subo monte, desço monte,
meu peito é puro deserto.

Eu ando sozinha ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.

Cecília Meireles

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