quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Canção do amor perfeito





O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a saudade, seca as lembranças e as lágrimas. Deixa algum retrato, apenas, vagando seco e vazio como estas conchas das praias. O tempo seca o desejo e suas velhas batalhas. Seca o frágil arabesco, vestígio do musgo humano, na densa turfa mortuária. Esperarei pelo tempo com suas conquistas áridas. Esperarei que te seque, não na terra, Amor-Perfeito, num tempo depois das almas.
Cecilia Meireles

Um comentário:

Sonia Schmorantz disse...

Acho que Cecília foi feliz nesse texto, impossível não secar onde tudo é momento, efemeridade...só depois desse tempo é possivel a eternidade!
beijos

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